sábado, 25 de janeiro de 2014

   Casado com Dilma, PMDB namora com antagonistas da presidente nos Estados (Josias de Souza)    
 
 
No casamento entre PMDB e PT a felicidade conjugal é muito difícil. Quando existe, é extraconjugal. Em vários Estados, essa felicidade conjugal só será possível a três. Ou a quatro. Longe de Brasília, algumas das principais lideranças do partido de Michel Temer, o vice de Dilma Rousseff, namoram com o PSB de Eduardo Campos e com o PSDB de Aécio Neves.
No Rio Grande do Norte, o PMDB de Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara, prepara o lançamento da candidatura do ex-senador peemedebista Fernando Bezerra numa mega-aliança que incluirá o PSB, o PSDB e, talvez, até o DEM. Momentaneamente afastado da política, Bezerra tornou-se um personagem nacional na década de 90. Eleito senador pelo PMDB em 1998, virou líder do governo FHC no Senado. No ano seguinte, o presidente tucano nomeou-o ministro da Integração Nacional.
A despeito desse passado, digamos, emplumado, o PT potiguar se dispõe a aceitar o nome de Fernando Bezerra. Mas impõe duas condições. Primeiro, reivindica que seja acomodada na chapa, como candidata ao Senado, a deputada federal Fátima Bezerra (a despeito da coincidência de sobrenome, ela não é parente do outro Bezerra). Em segundo lugar, o PT exige que a coligação seja composta apenas por legendas governistas.
Henrique Alves e seu primo, o ministro Garibaldi Alves (Previdência), torcem o nariz para o par exigências. Para o Senado, preferem a ex-governadora Wilma de Faria, do PSB de Campos. E não abrem mão da inclusão do PSDB de Aécio na canoa. Cogita-se delegar ao tucanato a indicação do vice. Quanto ao DEM, comandado no Estado pelo senador José Agripino Maia, a condição para que se integre à caravana é o rompimento com a governadora ‘demo’ Rosalba Ciarlini Campeã de impopularidade, ela é mantida no cargo por força de liminares judicias.
Em Roraima, o PMDB de Romero Jucá, ex-líder dos governos FHC, Lula e Dilma no Senado, também ambiciona a felicidade conjugal a três. Ali, o PT deseja fazer de sua senadora Ângela Portela a próxima governadora. E Jucá faz o que pode para impedir. Apoiará a candidatura de Chico Rodrigues, do PSB de Campos. Para vice, seu filho, o deputado estadual Rodrigo Jucá, atual secretário de Educação da capital Boa Vista, comandada por Tereza Surita, ex-senhora Jucá.
Fechando a chapa majoritária idealizada por Romero Jucá, disputará a cadeira de senador por Roraima o atual governador do Estado, José de Anchieta Júnior, do PSDB de Aécio. Embora trame contra os interesses do PT, Jucá potencializa seu prestígio político cavalgando os programas sociais do governo federal. Nesta sexta-feira (24), o senador trotou uma solenidade de entrega de 450 chaves do programa Minha Casa, Minha Vida, orgulho de Dilma Rousseff.
“A casa própria é o sonho da família brasileira, e em Roraima não é diferente”, discursou o inimigo local do PT. “Portanto, não vamos descansar até cumprir todas as nossas metas. Só em Boa Vista serão construídas 5 mil casas em 4 anos.” Fez questão mencionar a prefeita e ex-mulher: “Neste primeiro ano de governo de Teresa já entregamos mil casas. E para este ano de 2014 já temos aprovadas mais 520 habitações pelo Minha Casa, Minha Vida.”
Nas pegadas do pai, o futuro candidato a vice-governador Rodrigo Jucá também cuida de vincular sua imagem aos feitos do governo federal. No ano passado, estrelou peças publicitárias do PMDB local. Numa, intitulada ‘O PMDB sabe fazer’, disse que a força do partido pode ser medida “pelas obras e projetos sociais que ele traz para a cidade” de Boa Vista. Ao fundo, aparece uma cliente do Bolsa Família sacando o benefício num caixa eletrônico (assista abaixo).

Chama-se Marcelo de Castro o candidato do PMDB ao governo do Piauí. Vice-líder do partido na Câmara, ele integra o grupo político leal ao vice-presidente da República. Já comunicou a Michel Temer que irá às urnas de 2014 tendo como vice o ex-prefeito de Teresina Sílvio Mendes, do PSDB, e como candidato ao Senado o atual governador piauiense Wilson Martins, do PSB. Também informados, Aécio e Campos abençoaram o arranjo. Sobretudo porque ele exclui o PT.
No Ceará, o PMDB disputará o governo com Eunício Oliveira. Atual líder da legenda no Senado, Eunício gostaria de dispor do apoio de Dilma, de Lula, do PT e do governador cearense Cid Gomes (ex-PSB, hoje no Pros). Mas Cid tem planos de lançar um candidato próprio. E o petismo cearense vira a cara. Mas Dilma e o PT federal pendem para o projeto do governador. Abespinhado, Eunício negocia com Aécio uma composição com o PSDB.
Se o tricô cearense prosperar, o PSDB será representado na chapa de Eunício por um desafeto de Lula: Tasso Jereissati. Alijado do Senado em 2010, quando Lula se empenhou pessoalmente em derrotá-lo, Tasso ambiciona retomar o assento de senador em 2014. Para não ser tachado de dissidente, Eunício reivindica em Brasília a realização de uma pré-convenção do PMDB. Ocorreria em abril. E serviria para liberar as alianças extraconjugais nas praças onde o acerto com o PT tornou-se inviável.
É o que sucede também na Bahia, onde o peemedebista Geddel Vieira Lima, outra amigo de Temer, planeja disputar o governo em aliança com PSDB e DEM. O fenômeno pode se repetir no Rio de Janeiro, onde o governador Sérgio Cabral, em litígio com o PT do senador Lindberg Farias, busca novos parceiros. Candidato ao Senado, Cabral quer fazer vice Luiz Pezão seu sucessor. De resto, a encrenca pode se estender ainda à Paraíba. Na bica de ser preterido por Dilma na reforma ministerial, o senador Vital do Rego, cacique do PMDB paraibano, ameaça oferecer apoio à candidatura do tucano Cássio Cunha Lima, que cogita concorrer ao governo do Estado.


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