sexta-feira, 29 de abril de 2011

Setor público tem superávit primário de R$ 13,6 bi em março, novo recorde (Postado por Erick Oliveira)

O setor público consolidado (que inclui o governo, os estados, municípios e empresas estatais) registrou um superávit primário, ou seja, a economia feita para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda, de R$ 13,6 bilhões em março deste ano, informou nesta sexta-feira (29) o Banco Central.
De acordo com a autoridade monetária, o resultado representa um forte crescimento frente ao mesmo período do ano passado, quando foi registrado um déficit primário de R$ 159 milhões. Também representou o melhor resultado para meses de março. A série histórica do BC, para este indicador, começa em dezembro de 2001.
Decomposição do superávit
Na decomposição do resultado primário de março deste ano, o governo respondeu por um superávit de R$ 9,67 bilhões, enquanto os estados e municípios registraram um saldo positivo de R$ 4,4 bilhões - novo recorde para meses de março. As empresas estatais tiveram, por sua vez, um déficit de R$ 511 milhões.
"Os governos regionais contam com aumento do nível de atividade e isso repercute diretamente na arrecadação, em particular no ICMS, que é relevante na composição da receita dos estados. Além disso, têm crescido as transfêrencias constitucionais de forma significativa. Observando as nossas estatísticas, a gente percebe que o primeiro ano [de um governo, no caso dos novos prefeitos e governadores] é de bons resultados. A hipótese que a gente tem é que certamente há uma reorganização das finanças no primeiro ano do governo", disse Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC sobre o bom resultado dos estados e municípios.
Trimestre e meta anual
No acumulado do primeiro trimestre deste ano, ainda segundo números da autoridade monetária, o resultado positivo das contas do setor público foi positivo em R$ 39,26 bilhões, ou 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Isso representa um crescimento de 105% frente ao mesmo período do ano passado, quando o superávit primário somou R$ 19,1 bilhões (2,29% do PIB). Apesar de alto, o esforço fiscal do primeiro trimestre deste ano não bateu recorde para este período. O maior superávit primário para os três primeiros meses de um ano continua sendo aquele registrado em 2008, de R$ 41,5 bilhões.
O esforço fiscal de R$ 39,26 bilhões do primeiro trimestre de 2011 representa 33,2% da meta estabelecida para todo este ano, que é de R$ 117,9 bilhões - o equivalente a cerca de 3% do PIB. Os números do BC mostram que, em 12 meses até março, as contas públicas registraram um superávit primário de R$ 121,8 bilhões, ou 3,23% do PIB.
Resultado nominal e despesa com juros
No conceito nominal, ou seja, que incorpora os juros da dívida pública na conta, o setor público registrou um déficit de R$ 6,94 bilhões em março. Com isso, houve melhora em relação ao mesmo mês do ano anterior, quando foi registrado um déficit de R$ 17,1 bilhões.
No primeiro trimestre, o resultado negativo nominal somou R$ 19,68 bilhões, ou 2,1% do PIB. Em igual período de 2010, havia totalizado R$ 26,3 bilhões - o equivalente a 3,15% do PIB.
A despesa com juros nominais da dívida pública, por sua vez, somou R$ 20,54  bilhões em março deste ano e R$ 58,94 bilhões, ou 6,3% do PIB, no primeiro trimestre deste ano.
Dívida pública
A dívida líquida do setor público, indicador que é acompanhado com atenção por investidores internacionais, subiu de R$ 1,49 trilhão, ou 39,9% do PIB, em fevereiro deste ano para R$ 1,5 trilhão no mês passado - o equivalente também a 39,9% do PIB. A proporção da dívida com o PIB é considerada mais adequada por especialistas.
Para 2011, a expectativa é de queda na relação dívida/PIB. Caso a meta de superávit primário cheia seja cumprida, ou seja, sem o abatimento de despesas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), possibilidade já aprovada pelo Congresso Nacional e utilizada nos últimos dois anos pelo governo, a expectativa da equipe econômica é de que a relação dívida/PIB recue para 38% no fim deste ano.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Dilma: conter a inflação e crescer 'simultaneamente'

 
Economia| 26/04/2011 | Copyleft

Dilma: conter a inflação e crescer 'simultaneamente'

Ao reativar 'Conselhão', presidenta faz discurso que, com sutileza, coloca combate à inflação e crescimento econômico em pé de igualdade. Em resposta a pressões do 'mercado', ela defende 'serenidade'. Conselheiros ligados a trabalhadores e empresários aplaudem recados. Na mira do 'mercado', ministro da Fazenda e presidente do BC mostram sintonia.

BRASÍLIA – A presidenta Dilma Rousseff reativou, nesta terça-feira (26/04), o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, uma criação do ex-presidente Lula que quase sempre esteve no controle do PT e, agora, passa ao comando do PMDB. A troca da subordinação do chamado Conselhão não foi a única novidade da reunião ocorrida no Palácio do Planalto. Com a pauta do encontro centrada em inflação e crescimento, a presidenta colocou de forma clara, ainda que sutil, os dois elementos em pé de igualdade. “Eu me preocupo com a questão do crescimento econômico e do controle da inflação simultaneamente”, afirmou Dilma no discurso de encerramento da reunião.

A declaração arrematou um raciocínio que a presidenta construiu equilibrando-se nas palavras para não dar aos adversários espaço para a crítica de que o governo tolera aumento de preços em favor de mais PIB. Primeiro, ela havia dito: “Eu tenho o compromisso (…) com o controle da inflação. E eu cumpro meus compromissos.” Em seguida, evitou a expressão “mas” para completar: “Eu também tenho compromisso com o crescimento econômico e social (…) E eu cumpro os meus compromissos.”

A posição de Dilma foi vista com satisfação por trabalhadores e empresários. Para eles, indica uma certa disposição de resistir à pressão do “mercado”, setor que, com a oposição política desarticulada, constitui-se hoje no principal adversário do governo no assunto mais delicado do início da administração Dilma.

“Foi muito importante esse discurso de que o país precisa de crescimento tanto quanto de controle da inflação”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, que é membro do Conselhão. “Há muito tempo que o mercado montou uma rede de pretoção que só defende o valor da moeda. Mas o país não pode parar de crescer”, disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que também é conselheiro.

Segundo um ministro do governo, a presidenta de fato não vai patrocinar qualquer recessão para combater o aumento de preços. Ela aceita que a inflação volte à meta central de 4,5% no ano que vem, como o Banco Central (BC) tem dito que é o objetivo atual. Para 2011, desde que não haja nada parecido com explosão de preços, Dilma admite que a inflação gire em torno do limite autimposto pelo governo de 6,5%.

Serenidade versus pessimismo
Toda a área econômica do governo trabalha com a perspectiva de que a alta de preços ficará abaixo do limite máximo em 2011. Em discursos no Conselhão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini, mostraram afinação total, ao analisar a conjuntura econômica.

Segundo eles, há uma inflação mundial, que atinge inclusive o Brasil, decorrente da farra de capitais especulativos; verifica-se uma entrada maciça de dólares no país que afeta a atividade econômica; vale à pena controlar gastos públicos para encarar a alta de preços; e, no fim do ano, o Brasil será um dos poucos a exibir crescimento e inflação controlada, apesar das dificuldades.

O problema é que nem Mantega nem Tombini – alvos de antipatia do “mercado”, pois seus currículos não exibem passagens pelo sistema financeiro - parecem conseguir convencer o “mercado” com suas análises. As expectativas do “mercado” são bem piores. No caso da inflação, por exemplo, sobem há seis semanas. Tal pessimismo tende a influenciar a economia real e leva o próprio “mercado” a defender medidas mais duras de combate à inflação. Como juros maiores, com os quais, por sinal, o setor ganha dinheiro.

Mas Dilma também reservou um trecho do discurso para confrontar, outra vez com sutileza, aquele tipo de atitude. “Compreendo quando setores da sociedade, no calor do debate econômico, duvidem de tudo, cobrem diariamente novas medidas, insistem na ação cotidiana e na cobrança de novas e novas medidas contra tal ou qual desequilíbrio afirmou a presidenta.” Mas compreender o calor e a paixão que envolvem normalmente o debate não pode significar, para o governo, aquecê-lo mais do que é necessário. Trataremos sempre com serenidade e segurança as medidas e ações necessárias.”


Fotos: Agência Brasil

domingo, 17 de abril de 2011